MEDICALIZAÇÃO ?
Podemos notar que à medida que a medicina se insere no contexto social, as práticas e os discursos, até mesmos os mais moralistas e sociais se apropriam da racionalidade médica, e neste momento, a vida cotidiana torna-se medicalizada.
São vários os fatores que estimulam e facilitam de certa forma a prática da "fármacoterapia" incondicional, por assim podemos dizer, já que muita das vezes a não prescrição de um medicamento a um paciente passa ser indicativo de um "profissional não bom" ao invés da imagem de um profissional responsável, ético, etc. Outro fator hoje encontrado, é a facilidade da "informação", que também afeta quase que comparadamente o citado acima, já que uma vez que o cidadão comum começa a ter familiaridade com as noções médicas largamente difundidas, e assim passa a conceber a saúde como valor primordial e, conseqüentemente, a fazer de tudo para preservá-la ou restaurá-la, muita das vezes INTERFERE, até mesmo na conduta médica, induzindo o uso de uma medicação ou até mesmo na indicação de exames.
É válido citar que :
"Após o referido boom de propagandas de medicamentos nas décadas de 40 e 50, cai o número de anúncios de fármacos na imprensa escrita no fim da década de 60. Podemos destacar três fatores que contribuíram para esse declínio: em primeiro lugar, a televisão torna-se o principal meio de comunicação na década de 70, mesmo que o espaço publicitário nela fosse muito caro e pouco acessível; em segundo lugar, passa a haver um rígido controle de preços sobre os medicamentos, o que impede que os produtores repassem os gastos com propaganda para o consumidor; em terceiro lugar, desde a década de 50 até a década de 70 há um grande desenvolvimento de ansiolíticos, anti-psicóticos e pílulas anticoncepcionais, tais fármacos vão tomando cada vez mais espaço na produção industrial, e conseqüentemente deslocam para si os investimentos das campanhas publicitárias". (TEMPORÃO, 1986).
O final ou o começo; na verdade ambas faces do PROBLEMA, se confundem ao bem legal do contexto, e sndo assim eta atitude é reforçada pelo processo capitalista, uma vez que o corpo saudável equivale a um trabalhador cheio de força para produzir: SAÚDE é o principal valor humano na sociedade, e conseguinte do processo do capitalismo moderno, pois o mesmo é sinônimo de força de trabalho e assim de produtividade, e todo esse contexto social implantado desde os tempos "passados" é um terreno fertilíssimo para a indústria farmacêutica.
Doenças inventadas ?
O Brasil vive uma epidemia: de diagnóstico de transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, transtorno de oposição desafiadora, depressão, dislexia e autismo em crianças e adolescentes.
Entre 5% e 17% de crianças encaminhadas para serviços de especialidades médicas recebem uma receita com medicações extremamente perigosas, como psicoestimulantes, antidepressivos e antipsicóticos.
O remédio tomou conta do processo de educação e atribuiu ao organismo da criança a responsabilidade pelo aprendizado.
Foi isto o que mais de 1.200 profissionais da área da saúde e educadores ouviram em duas sessões realizadas no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Medicalização do modo de ser ?
Segundo o pediatra Ricardo Caraffa, as crianças acabam sendo diagnosticadas muito rapidamente e de forma errônea sem receber nenhum outro tipo de atenção e análise.
Num esforço de reverter esse quadro, foi realizado em São Paulo, no mês de novembro, um fórum sobre o tema.
Cerca de 450 participantes de 27 entidades assinaram um manifesto no qual afirmam que a aprendizagem e os modos de ser e agir têm sido alvos da medicalização, transformando as crianças em consumidores de tratamentos, medicamentos e terapias.
"A venda de medicamentos à base de metilfenidato aumentou 1.000 por cento nos últimos anos. São dois milhões de caixas por ano. Esse número é muito expressivo", explicou Caraffa.
Diferenças pessoais, não doenças ?
Para a pediatra, professora e pesquisadora da Unicamp, Maria Aparecida Affonso Moysés, existem doenças e problemas de saúde que podem interferir com o desenvolvimento cognitivo e afetivo das pessoas.
Existem pessoas que aprendem com mais facilidade que outras e existem pessoas tranquilas, calmas, apáticas, agitadas, empolgadas e mais agressivas.
E entre os extremos há infinitas possibilidades.
Ainda segundo Moysés, existem diferentes modos de aprender e lidar com que já foi aprendido e cada um estabelece os seus próprios processos cognitivos e mentais para aprender.
"Cada ser humano é diferente do outro. Quais são as evidências científicas que comprovam que doenças biológicas e psiquiatras comprometem exclusivamente a aprendizagem?", questionou a pesquisadora que desenvolve um trabalho juntamente com Cecília Colares, da Faculdade de Educação, sobre déficit de atenção.
Retrocesso ?
De acordo com a psicóloga da USP Marilene Proença Souza, a criança brinca, faz birra, chora e tenta impor sua vontade, hoje em dia, quando ela corre um pouco mais é dita como hiperativa, se fala muito é rotulada de desatenta, e se troca letras no processo de alfabetização - o que é esperado - dizem que ela tem dislexia.
Segundo Marilene, ao diagnosticar a criança com algum distúrbio, a sociedade está deixando de considerar todo o processo de escolarização que produz o não-aprender e o não-comportar-se em sala de aula.
"Do ponto de vista da psicologia da educação, estamos vivendo um retrocesso. Estamos culpando a criança por não aprender e medicando-a. O remédio não pode ocupar o lugar da escola e da família. Se assim for, estamos invertendo valores do campo da saúde, da educação e da psicologia com relação ao desenvolvimento infantil e deixando de usar todos os instrumentos pedagógicos no início do processo de alfabetização". (SOUZA, 2011).
As perguntas que nos movem:
O QUANTO ISSO ACONTECE EM MEU ÂMBITO DE TRABALHO ? COMO TORNAR ESSE PROCESSO MENOS INTENSO ?
Fonte:
- DIARIO DA SAÚDE: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=medicalizacao-criancas&id=6612
- TEMPORÃO, José Gomes. A propaganda de medicamentos e o mito da saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
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