“Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor.” (Mateus 24:42).

Vigilância Ambiental: Leishmaniose: Você sabe do que se trata ?

 Podemos dizer que as  Leishmanioses pertencem a um grupo de doenças que são causadas por um protozoários do gênero Leishmania, que se manifesta de diversas formas Clínicas.
No cotidiano as espécies de Leishmania conhecidas e seu mecanismo transmissor envolve picada de fêmeas de insetos hospedeiros infectados ao homem e a outros mamíferos, estes hospedeiros são restritos a espécies de flebotomíneos hematófagos da :
  • Ordem Díptera
  • Família Psychodidae
  • Sub-família Phlebotominae
  • subspécie Lutzomya longipalpis no Novo Mundo e ao 
  • gênero Phlebotomus, no Velho Mundo.
Podemos então utilizar-se do termo Leishmaniose para então poder definir o conjunto de doenças "as Leishmanioses", de causa mais direta por parasitas do gênero Leishmania, a distribuição geográfica destes parasitas tão importantes para nós é da presença em quase todos os continentes, excluindo-se a Austrália e Antártica, e com identificação já conhecida de mais de 20 espécies.
 De acordo com a OMS - Organização Mundial de Saúde, pode então ser caracterizada como uma das seis doenças infecciosas mais importantes do mundo, epidemiológicamente estima-se que a cada ano cerca de 2 milhões de pessoas sejam acometidas em todo mundo.
O mecanismo de transmissão da doença ocorre através da picada de um inseto, o flebótomo do gênero Lutzomyia, este tem o tamanho diminuto suficiente para atravessar malhas de mosquiteiros e telas e que contra eles se tornam ineficazes, não há transmissão direta de pessoa para pessoa, sendo necessário um "depósito" para que a cadeia de transmissão se complete, a leishmaniose é considerada uma zoonose (são doenças de animais transmissíveis ao homem, bem como aquelas transmitidas do homem para os animais. Os agentes que desencadeiam essas afecções podem ser microorganismos diversos, como bactérias, fungos, vírus, helmintos e rickettsias)..., sendo assim o mosquito só transmite a leishmania se tiver picado um animal infectado, mais é importante considerar que apesar de infectarem primariamente animais, o homem pode ser contaminado se estiver presente em uma área endêmica.
No Brasil, esta forma é normalmente causada pela espécie leishmania amazonensis e leishmania braziliensis, podemos considerar como fontes de infecção principalmente os animais silvestres, mas o cão doméstico pode servir também como hospedeiro (usamos este termo para designar o ser infectado)... , quando o homem é picado pelo inseto que carrega a leishmania, pode desenvolver dois tipos de doença: 
  
  • Leishmaniose tegumentar (que acomete a pele e as mucosas),
  1. Cutânea disseminada,
  2. Cutânea difusa,
  3. Mucosa ou muco-cutânea, 
  • Leishmaniose visceral ou calazar (que acomete os órgãos internos).
 O que define se o paciente terá a forma cutânea ou a forma visceral é o tipo de leishmania que o contamina, o mosquito recebe diversos nomes que variam com a região onde é encontrado, como mosquito palha, tatuquira, birigüi, cangalhinha, asa branca, asa dura e palhinha, o processo de contágio acontece após a picada (são libertados no sangue junto com a saliva de flebotomíneos no momento da picada) do mosquito, assim o protozoário é inoculado em nosso organismo podendo se reproduzir ou de forma local ou de forma disseminada pelo organismo.
Os casos de LTA - Leishmaniose Tecumentar giram em torno de 90% dos casos do mundo, se caracteriza pela presença de uma úlcera indolor, de formato arredondado ou ovalado com bordas elevadas, de tamanho variável , que vai girar de  milímetros à centímetros.
O período de incubação (tempo decorrido entre a picada do inseto e o aparecimento de sintomas) gira em torno de 2 a 3 meses, que também de certa forma pode variar de 2 semanas a até dois anos, em resumo podemos dizer que a leishmaniose cutânea, caracterizada por lesões localizadas na pele que podem curar espontaneamente ou evoluir para lesões crônicas com cicatrizes desfigurantes outra forma seria a leishmaniose mucocutânea, caracterizada por lesões ulcerativas e destrutivas das mucosas; que ainda pode assumir a forma difusa, caracterizada por lesões nodulares não ulcerativas e disseminadas. 

A forma da Leishmaniose cutânea disseminada, pode ser considerada como uma forma rara que ocorre em apenas 2% dos casos, caracterizada pelo aparecimento de múltiplas lesões papulares e acneiformes (semelhantes a acne), envolvendo várias partes do corpo, inclusive a face e o tronco, podendo chegar a centenas, seu quadro inicial há presença de lesões semelhantes às da forma localizada, havendo posteriormente disseminação do parasita através do sangue, levando ao surgimento de lesões distantes da picada em poucos dias, os sintomas envolvidos vao de febre, dores musculares, mal-estar geral a até o emagrecimento, já a Leishmaniose na sua forma cutânea difusa, é considerada uma forma rara e grave da doença aonde o indivíduo não consegue gerar uma resposta imunológica adequada para eliminar o parasita, em se tratando de Brasil quadros assim são causados pela espécie  leishmania amazonensis, clinicamente não há úlcera, mas sim lesões nodulares ou em placas, cobrindo grandes extensões do corpo, frequentemente associadas a deformidades e que respondem mal ao tratamento. Habitualmente existem grandes quantidades de leishmania nas lesões.

A forma da Leishmaniose  mucosa ou muco-cutânea é responsável por aproximadamente 3 a 5% dos casos de leishmaniose tegumentar, se caracteriza por uma resposta imunológica exacerbada e ineficaz frente ao parasita, com destruição dos tecidos onde se localiza a infecção associada a má resposta ao tratamento, vai acometer as mucosas das vias aéreas superiores, "nariz e a boca" e é relatada como sendo indolor, surge após cicatrização de uma lesão cutânea, que acontece tanto espontaneamente como por terapêutica inadequada, pela  disseminação do parasito pelo sangue ou pelos vasos linfáticos.
Já a forma Visceral da doença é crônica e progressiva e afeta vários órgãos, incluindo o baço, o fígado, a medula óssea, os linfonodos e a pele, pode ocorrer mais de uma lesão ao mesmo tempo, chegando a até 20 lesões simultâneas, no Brasil, a leishmania chagasi é o parasita que causa leishmaniose visceral, o período de incubação varia de 2 a 6 meses, geralmente a infecção é oligossintomática (quase ou nenhum sintoma) ou de moderada a grave, o que leva geralmente o paciente à morte, em casos sintomáticos iniciais, há presença de anemia, esplenomegalia (aumento do baço), hepatomegalia (aumento do fígado) , febre contínua e redução do número de plaquetas e de leucócitos, levando a sangramento, infecções bacterianas.
A Leishmaniose visceral humana também é conhecida por calazar, palavra de origem indiana "KALA-AZAR", que em indiano significa doença mortífera.

O Diagnóstico da Leishmaniose nos casos de LTA - Leishmaniose Tegumentar, o aspecto clínico da lesão de pele associado a uma história epidemiológica compatível pode levar ao diagnóstico, mas o ideal é que se utilizem métodos parasitológicos para confirmação, já em casos de suspeita de  Leishmaniose Visceral, o diagnóstico parasitológico pode ser realizado em amostras de medula óssea, fígado, baço e linfonodos.
Os testes de Intradermoreação de Montenegro no qual se realiza uma injeção intradérmica de antígenos (proteínas) de leishmania, e assim, caso o doente já tenha entrado em contato com o parasita (está infectado ou já esteve), vai então neste local ocorrer uma uma reação inflamatória acusando uma positividade que, também pode, ser positivo após tratamento bem sucedido e negativo na forma cutânea difusa, uma vez que depende da resposta imunológica do indivíduo, nos casos de leishmania visceral / calazar, o teste é negativo, tornando-se positivo somente após a cura clínica, o Diagnóstico imunológico é realizado através da imunofluorescência indireta (RIFI) e do ELISA, o fundamento destes testes é detectar os anticorpos anti-Leishmania circulantes no sangue de pessoas que já entraram em contato com o parasito, justamente por este motivo que não devem ser utilizados como critério isolado para diagnóstico na ausência de outros dados clínicos e laboratoriais.

O Tratamento da leishmaniose deve seguir o esquema de drogas especificadas pelo Ministério da Saúde sendo de primeira escolha para tratamento da Leishmaniose os Antimoniais Pentavalentes, a administração deve ser realizada por via parenteral (ou seja, intra-muscular ou intra-venosa), por uma período mínimo de 20 dias, a dose e o tempo da terapêutica varia com as formas da doença e gravidade dos sintomas, e a resposta do paciente ao tratamento.

O seu principal efeito colateral é a indução de arritmias cardíacas e está contra-indicado em mulheres grávidas nos 2 primeiros trimestres, doentes com insuficiência hepática e renal e naqueles em uso de drogas anti-arrítmicas.
Todas as reações adversas graves ou potencialmente graves DEVEM SER NOTIFICADAS conforme descrição abaixo, às autoridades sanitárias: 
  • arritmias    cardíacas    e/ou    outras    manifestações    de    cardiotoxicidade;
  • insuficiência    renal    aguda    ou    elevação    dos    níveis    séricos    de    uréia    e    creatinina    e/ou outras manifestações de nefrotoxicidade; 
  • icterícia    e/ou    elevação    de    enzimas    hepáticas    e/ou    outras    manifestações    de    hepatotoxicidade,
  • pancreatite    aguda    e/ou    hiperamilasemia; outras    não    citadas    acima    e    que    não    tenham    sido    descritas    anteriormente.
Não há nenhum impedimento de que se notifiquem casos que não se encaixem na classificação acima, apenas não é imperativo que tais notificações sejam feitas. 
A not-ficação deve ser feitas no site: www.anvisa.gov.br, no link da farmacovigilância.
NA DÚVIDA, NOTIFIQUE!

As outras drogas que são usadas no tratamento da leishmaniose incluem a anfotericina B, paromomicina e pentamidina.

Prevenção:
  • evitar construir casas e acampamentos em áreas muito próximas à mata;
    fazer dedetização, quando indicada pelas autoridades de saúde;
  • evitar banhos de rio ou de igarapé, localizado perto da mata;
  • utilizar repelentes na pele, quando estiver em matas de áreas onde há a doença;
    usar mosquiteiros para dormir;
  • usar telas protetoras em janelas e portas;
  • eliminar cães com diagnóstico positivo para leishmaniose visceral, para evitar o aparecimento de casos humanos.
Fonte: 
  • SCHUBACH, A. et al. Leishmaniasis of glans penis. J. Eur. Acad. Dermatol. Venereolol., [S.l.], v. 10, p. 226-228, 1998. 
  • SCHUBACH, T. M. P. et al. American tegumentary leishmaniasis in 2 cats from Rio de Janeiro – First report of natural infection with leishmania (viannia) braziliensis.  Trans. R.Soc. Trop. Med. Hyg., [S.l.], v. 98, n. 3, p. 165-167, 2004.
  • SHANNON, R. C. Methods for collecting and seeding mosquitoes in jungle yellow feverstudies. J. Med. Entomol., [S.l.], v. 19, p. 131-140, 1939.
  • SHAW, J. J. et al. Cutaneous leishmaniasis of man due to leishmania (viannia) shawi in Pará State, Brazil. Ann. Parasitol. Hum. Comp., [S.l.], v. 66, p. 243-246, 1991.
  • SHAW, J. J. New world leishmaniases: the ecology of leishmaniases and the diversity of leishmanial species in Central and South America. In: FARRELL, J. (Ed.). World class parasites: leishmania.l. Boston: Kluwer Academic Publisher, 2002. v. 4, p. 11-31.
  • Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. O que são leishmanioses? (Folder)- Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz.

Um comentário:

  1. Muito informativo o seu texto. Parabéns. Estou buscando informações pro nosso site sobre leshmaniose e o Google nos indicou o seu blog.

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