“Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor.” (Mateus 24:42).
VA - Aedes aegypti - Pesquisas apontam que mosquitos infectados são mais ávidos por sangue.
O Aedes aegypti vetor transmissor do Dengue, quando infectado com o vírus se torna mais ávido por sangue: O
fenômeno, cujas causas moleculares ainda são desconhecidas, pode ajudar a
ciência a entender por que a dengue é, hoje, o agravo transmitido por
mosquitos que se espalha mais rapidamente pelo globo, os achados foram publicados em dois
artigos veiculados na revista científica Plos One.
Estima-se que, mesmo em tempos de epidemia, uma parcela reduzida dos mosquitos Aedes aegypti
no meio ambiente esteja naturalmente infectada com o vírus da dengue.
No entanto, a doença pode se disseminar com velocidade intrigante. Este
paradoxo levou o biólogo Gabriel Sylvestre a investigar o impacto da
infecção do vírus na biologia
do vetor, com ênfase no seu comportamento alimentar. Os estudos
realizados durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Biologia
Parasitária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) trouxeram evidências
claras: os insetos são impactados negativamente pelo vírus, mas podem
ficar mais ávidos por sangue. O fenômeno, cujas causas moleculares ainda
são desconhecidas, pode ajudar a ciência a entender por que a dengue é,
hoje, o agravo transmitido por mosquitos que se espalha mais
rapidamente pelo globo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os
achados foram publicados em dois artigos veiculados na revista
científica Plos One.
Gangorra de efeitos
Os efeitos do vírus da dengue
sobre o A. aegypti já haviam sido alvo de estudos desenvolvidos pelo
orientador do mestrado de Sylvestre – o pesquisador Rafael Freitas, do
Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC. Freitas venceu o
Prêmio Capes de Teses de 2011 na categoria ciências biológicas 3 com
pesquisa que verificou os impactos do vírus sobre a reprodução e a
longevidade das fêmeas de A. aegypti. Nos estudos realizados por
Sylvestre, estes dados ganharam corroboração e aprofundamento. Os estudos concluem que a presença
do vírus no mosquito lhes traz, em geral, efeitos nocivos que poderiam
desfavorecer a transmissão da doença. No campo da longevidade, o impacto
é negativo: Sylvestre confirmou os dados anteriores de que a infecção
pelo vírus reduz o tempo de vida da fêmea pela metade. No que se refere à
fecundidade, é comum que fêmeas infectadas não coloquem ovos. No
entanto, quando o fazem, depositam cerca de 60% menos ovos do que as
fêmeas não infectadas, mostrando um importante
prejuízo na capacidade de reprodução. Outro impacto negativo, desta vez
identificado de forma inédita, diz respeito ao tempo maior que a fêmea
infectada leva para encontrar alimentos e sugar o sangue. “Ao demorar
mais na localização e no processo de alimentação, a fêmea se torna mais
vulnerável às ações de defesa do hospedeiro”, explica o biólogo. Apesar das ações negativas sobre a
longevidade, fecundidade e o tempo de localização da fonte sanguínea,
um efeito do vírus sobre o mosquito identificado pelos pesquisadores
preocupa: a fêmea de Aedes infectada com o vírus da dengue mostrou-se
mais predisposta a realizar novas alimentações
sanguíneas - comportamento este que pode potencializar a transmissão da
doença. Em ambos os estudos, foram utilizados mosquitos coletados em
campo e criados em colônias de laboratório, infectados com o sorotipo 2
do vírus da dengue. Segundo dados epidemiológicos, este sorotipo esteve,
na última década, dentre os de maior circulação entre a população
brasileira. Mosquitos mais fracos Uma fêmea só transmite o vírus dengue
entre 10 e 14 dias após se alimentar de uma pessoa infectada. E é a
partir deste momento que têm início as principais mudanças
comportamentais observadas, até então, no vetor. Para testar os efeitos
da infecção pelo vírus, foi realizado o seguinte experimento: tubos de
plástico, cada um contendo uma fêmea do mosquito, foram posicionados
contra a barriga de um camundongo anestesiado. “Cronometramos o tempo
que cada mosquito demorava para encontrar e picar, pela primeira vez, a
barriga do camundongo; o tempo de ingestão do sangue; e o tempo total da
alimentação. Em todos estes aspectos, a partir do 14º dia pós-infecção,
os mosquitos foram mais lentos”, afirma o biólogo. Os testes mostraram que, no 14º dia
pós-infecção, os mosquitos com o vírus tinham sido reduzidos a 34,3% do
número inicial, enquanto 75,2% dos mosquitos controle, ou seja,
não-infectados, ainda permaneciam vivos. De acordo com o biólogo, a
explicação pode ser um fenômeno conhecido como trade-off. Nessa linha, o
vetor seria capaz de alocar recursos energéticos para criar uma
resposta imune ao vírus da dengue, o que, por sua vez, diminuiria o
investimento em outras atividades, tais como produção de ovos e
longevidade.
Mosquitos mais ávidos:
Conduzido pelo pesquisador Rafael
Freitas, o estudo que procurou mensurar a avidez do vetor na alimentação
apontou, pela primeira vez, a existência de um comportamento que
favorece a transmissão da dengue. Neste experimento, realizado 7 e 14
dias após a infecção, a alimentação das fêmeas era interrompida. Ou
seja, os mosquitos eram alimentados apenas parcialmente, simulando uma
situação em que o hospedeiro afasta ou impede o vetor de finalizar a
refeição. Entre duas e três horas após, lhes era oferecida uma segunda
oportunidade para picar o camundongo. “A fêmea infectada do Aedes é, de
fato, mais lenta para encontrar alimento. Mas, após a primeira picada,
ela se torna mais ávida para se alimentar novamente, independentemente
da quantidade de sangue ingerida na primeira vez. Isto é um problema,
visto que já é da natureza desta espécie picar diversos hospedeiros,
potencializando a transmissão do vírus”, conta Freitas. Ainda de acordo com o pesquisador, este
aumento da avidez pode ser fruto de modificações fisiológicas, de ordem
molecular ou bioquímica, provocadas pelo vírus, que se dissemina por
todos os tecidos do mosquito: cabeça, patas, asa, ovários, corpo
gorduroso e músculos. “Sempre imaginamos que haveria uma mudança grave
de comportamento. Agora, entendemos que essa dinâmica da infecção altera
suas atividades e, embora minimize a transmissão na maior parte das
vezes, também a favorece, a partir de outros mecanismos que apenas agora
estamos conseguindo compreender”, analisa. “Ainda não contamos com
vacinas ou uma cura para a doença, por isso, quanto mais conhecermos as
fraquezas do Aedes, mais estratégias inovadoras poderemos desenvolver
para combatê-lo”, conclui Sylvestre. Fonte: Agência Fiocruz
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